“Com a vacina, venci a covid”, comemoram mineiros, após dois anos do início da vacinação no estado
Apesar dos avanços, secretário de Saúde reforça necessidade de completar o esquema vacinal; 35% do público alvo ainda não tomou a primeira dose de reforço
Nesta quarta-feira (18/1), o início da vacinação contra a covid-19 em Minas Gerais completa dois anos. Desde que a técnica de enfermagem do Hospital Eduardo de Menezes (HEM), Maria Bom Sucesso Pereira, a Cecé, se tornou a primeira pessoa a ser imunizada no estado, mais de 50 milhões de doses foram aplicadas nos braços dos mineiros. Alívio, segurança, liberdade e sensação de vitória são algumas das palavras usadas por quem se imunizou para definir como a vacina mudou suas vidas durante a pandemia, além daqueles que venceram a doença graças à imunização.
No bairro Planalto, na região Norte de Belo Horizonte, o aposentado Dirceu Lima Pereira, de 88 anos, se recupera bem após ter contraído a doença nos primeiros dias deste ano. “Passei um mal danado”, conta seu Dirceu, que tomou todas as doses recomendadas para sua faixa etária. Após ser medicado e ficar em observação em uma Unidade de Pronto-Atendimento (UPA) por algumas horas, ele teve alta para se recuperar em casa. “Mais tarde já conseguia descer da cama, já estava melhorando”, conta. “Hoje estou muito melhor. Acho que se não tivesse a vacina, teria até morrido”, diz. “Se tiver a quinta dose, eu vou tomar”, conclui.
Na Savassi, na região Centro-Sul da capital, as irmãs Otília Gonçalez Ferreira, de 90 anos, e Juracy Alvarenga Gonçalez de Alcântara, de 86, a Cici, também tiveram covid-19 recentemente e atribuem a recuperação ao imunizante. Na época, Otília ficou hospitalizada por dez dias e também apresentou quadro de pneumonia, em decorrência da doença. “Tomei quatro doses e ainda a da gripe. Tenho que agradecer às vacinas, acho que foi isso que me salvou. Estou indo a passos largos na minha recuperação. Quero ver meus bisnetos crescerem”, afirma ela, que, após as vacinas, deixou para trás os encontros apenas pela janela da garagem e com máscaras. “Antes da vacina, foi um período difícil, de muita solidão. Quando pude abraça-los, senti uma enorme emoção”, lembra.
A irmã de Otília também testou positivo, mas ficou assintomática. “Não senti nada. Nem falta de apetite, de paladar. Fiz até limpeza na casa”, conta. “Quero falar para as pessoas tomarem a vacinas, porque ela salvou a minha irmã. Se ela não tivesse tomado, teria morrido. Temos que agradecer muito aos cientistas, médicos, pesquisadores. Tomara que continuem desenvolvendo outras vacinas”, enfatiza.
Moradora de Nova Lima, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, Maria da Silva Oliveira, de 78 anos, também já estava imunizada quando contraiu a covid-19. “Só desidratei. Não tive tosse. Tive uma dorzinha no corpo e mais nada. A vacina para mim foi um sonho. Veio para fazer bem para todo mundo”, resume.
Ela lembra os momentos tensos do início da pandemia. “Minha vida antes de tomar a vacina era uma depressão. Estava só dentro de casa. À noite eu deitava e nem dormia direito de tanta preocupação. Minhas filhas nem podiam ir lá em casa porque tinham medo de levar a doença para mim. Se chegava uma pessoa, eu já ficava assustada. Hoje estou muito bem. Agora eu saio, tomo meus cuidados, uso máscara e álcool direitinho. Tome logo essa vacina, porque é muito boa mesmo. Evita de a gente de ter esse mal”, ressalta.
Esquema vacinal
A vacinação é segura e confere proteção contra os casos graves da doença. Isso significa que uma pessoa com o esquema vacinal completo, com as doses recomendadas e o reforço conforme a idade, tem menos chances de hospitalização e óbito pela covid-19. Além disso, a imunização garante a proteção da coletividade e dificulta o surgimento de variantes mais agressivas do coronavírus.
“Hoje são mais de 50 milhões de doses aplicadas, o que nos deixa mais tranquilos em relação à pandemia. Temos a vida praticamente normal, como era antes da doença chegar no Brasil. Mas, não podemos esquecer que precisamos fazer muito mais. Quem tem mais de 40 anos são quatro doses, e quem tem menos de 40 anos, três doses”, reforça o secretário de Estado de Saúde de Minas Gerais, Fábio Baccheretti.
Ele lembra que ainda há muitas pessoas que não buscaram a vacinação. Segundo o painel Vacinômetro, administrado pela SES-MG, 35% do público-alvo ainda não tomou a terceira dose (ou primeira dose de reforço) contra a covid-19. “Fica sempre o apelo especial para o público mais vulnerável, que são os idosos, as pessoas com comorbidades. Se você ainda não completou seu esquema vacinal, busque essa vacina que está no posto. Pais, responsáveis: levem suas crianças para o posto de saúde para garantir essa proteção”, diz o secretário, que ainda destaca: “Temos novidades chegando. A partir do mês que vem, provavelmente, a vacina bivalente vai ser aplicada no público acima de 70 anos e nos imunossuprimidos”.
“Temos que celebrar este momento de dois anos com esta vacina que deu mais esperança e salvou a vida de tanta gente, mas não podemos esquecer que temos que continuar nos protegendo e buscando sempre a vacinação, que está lá esperando cada um de vocês”, conclui Baccheretti.
Na linha de frente
A enfermeira Joely Pedrosa do Carmo, de 30 anos, é gerente da Unidade Básica de Saúde (UBS) José de Almeida, em Nova Lima, e lembra como a vacina foi um divisor de águas após o primeiro ano da pandemia.
“Antes da vacina era um desespero. Chegava um paciente com covid, encaminhávamos para o serviço de urgência, e depois a gente ficava sabendo que piorou. Muita insegurança dos profissionais, dos familiares. Hoje em dia, conseguimos ter tranquilidade para atender esse paciente porque estamos protegidos com a vacina e sabemos que ele também está com a proteção”, exemplifica.
“A tendência é de que ele não evolua para um caso grave. O paciente e a família chegam menos ansiosos. Graças à eficácia da vacina, a maioria dos casos tem sucesso”, completa.
O período foi desafiador para Joely que, além de coordenar a equipe da unidade atuando na linha de frente, também se preocupava com a saúde da família. “Sempre fui referência de uma pessoa extremamente cuidadosa e receosa com a covid. Quando a doença chegou, me apavorei porque era algo desconhecido. Tenho uma avó de 98 anos e isso me preocupava. Esperei por esta vacina como a salvação da minha vida e da vida da minha avó. Quando tomei a vacina fiquei muito feliz”, relembra.
Em maio do ano passado, já na terceira dose contra a doença, Joely contraiu covid, mas ressalta que foi um caso leve. “Tive só coriza. Testei justamente por causa da minha avó. Quando deu positivo, recebi a notícia sem a taquicardia que eu teria se não tivesse me vacinado. Me isolei, tomei os cuidados, me hidratei e passei por essa fase com tranquilidade”, afirma.
Distribuição
A gerente da UBS José de Almeida diz que nos primeiros meses da vacinação o movimento era intenso. “Distribuímos senhas, fizemos filas de prioridade. Foi todo um trabalho de organização. Eram filas enormes, mas a gente se organizava para fazer duas salas, tudo para tentar agilizar a vacinação”, lembra.
Ela ressalta que um fator importante para a eficiência da campanha foi a distribuição das vacinas pelo estado. Com a pandemia da covid-19, Minas realizou a maior operação de vacinação da história do estado. Por determinação do governador, todas as aeronaves, aviões e helicópteros foram mobilizados para levar as vacinas para as 28 regionais de Saúde com a maior agilidade possível, inclusive em áreas rurais, comunidades quilombolas e indígenas dos 853 municípios mineiros.
“As doses sempre chegavam, garantindo a segunda aplicação para todo mundo. Eles já saíam daqui com a data e a segunda dose garantida. Foi uma distribuição bem organizada e rápida. Não tivemos problemas”, destaca.
Sistema Único de Saúde
Joely também falou da importância do Sistema Único de Saúde a partir da experiência na unidade durante a chegada das vacinas. “Aqui na UBS José de Almeida, em particular, temos os dois extremos: o extremo da pobreza e dos condomínios. Quando a vacina da covid chegou, ela mostrou que o SUS é forte, igual e universal. Porque só tinha no SUS. Quem nunca acessou o SUS – que são as pessoas dos condomínios, de maior poder aquisitivo – veio para cá e descobriu o que é o sistema. Hoje, temos algumas dessas pessoas nos programas de distribuição de fraldas, controle de diabetes, tabagismo, consultas, atividades físicas”, afirma.
“A vacina proporcionou não só a cura da covid-19, mas também mostrou que o SUS é completo e cuida de toda nossa saúde. Isso foi muito bonito, porque a gente vê que, apesar de todas as dificuldades, ele continua mantendo seus princípios de igualdade e universalidade”, conclui a enfermeira.
Volta ao trabalho
O artesão Luiz Alberto Nacif Campos, de 67 anos, passou pela UBS de Nova Lima na quinta-feira (12/1) para receber a quarta dose contra a covid-19. Ele nunca contraiu a doença e ainda mantém o uso de máscara, álcool em gel e outras medidas. “Após ter tomado a vacina tive uma proteção maior. Ando de ônibus, convivo com muitas pessoas, mas agora me sinto protegido”, diz.
Luiz é expositor da Feira Hippie, trabalhando com bijuterias de cerâmica. Quando a pandemia começou, ele precisou suspender a atividade e viveu um cenário de grande incerteza, além de abalo emocional. “Ficamos oito meses sem trabalhar. Na feira somos 2,4 mil pessoas que dependem da atividade. A maioria de nós tem mais de 60 anos e muitos faleceram. Estávamos inseguros, sem saber se a feira voltaria. A vacina veio justamente para retomar as atividades profissionais. Convivemos com gente de todos os lugares, uma quantidade muito grande de pessoas circula na Avenida Afonso Pena. Ainda bem que a ciência, a pesquisa, o estudo e a competência dos profissionais da saúde trouxeram para a humanidade esta nova perspectiva”, diz.O artesão também destaca que a proteção deu novo fôlego ao comércio no local. “A vacinação trouxe muitos turistas que não podiam vir a Belo Horizonte. Hoje recebemos pessoas do mundo inteiro que podem novamente viajar, tomando os cuidados necessários, e a vida voltou praticamente ao normal”, avalia.Outra que pôde voltar ao trabalho e à rotina do dia a dia após se imunizar foi a costureira Celi Oliveira Lima, de 67 anos. “Antes de tomar a vacina, fiquei com meu comércio fechado, dentro de casa. Depois da vacina, me senti mais à vontade. Eu podia sair para fazer minhas compras, já abri meu comércio. A vacina para mim foi ótima, senti liberdade”, celebra, já com as quatro doses do imunizante no braço.
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